Paz e progresso seriam as melhores palavras para
descrever este período da história de Israel. Depois de 30 anos onde tivemos os
governos de Judas Macabeu e Jônatas (somados) tivemos então o governo de Simão.
Segundo o livro Panorama histórico de Israel para estudantes da Bíblia de
Antônio R. Gusso o período de governo de Simão foi igual ao dos dois irmãos
somados, mais 30 anos, ou seja, mais de 60 anos.
Simão, apesar de não ter usado o título de rei por saber que este
título só deveria ser dado aos descendentes de Davi governou muito bem a Judéia,
re-estabeleceu tratados com Roma, criou tribunais, enriqueceu a nação, além de
ter embelezado o Templo e a cidade de Jerusalém, protegeu os humildes de seu
povo e zelou pela lei.
É bastante importante este período do governo de
Simão para a constatação de que as profecias do Antigo Testamento já se
cumpriram (conforme o próprio Jesus Cristo afirma em Mateus 11:13). Ocorre que
muitos, desconhecendo este período da História de Israel, acham que as profecias
de retorno do cativeiro, paz e prosperidade ainda irão se cumprir, por acharem
que Israel viveu dominado por outras nações (Babliônios, Persas, Sírios, Gregos
e Romanos) desde o final do Antigo Testamento e que, como continuam em conflitos
até os dias de hoje, esta paz e prosperidade ainda não teria ocorrido.
Apesar de não fazer parte do Cânon da Bíblia
Evangélica e do Cânon Hebraico, o Primeiro Livro dos Macabeus (que faz parte do
Cânon Católico) é o que melhor descreve este período, com destaque para o
capítulo 14.
Leia o texto:
1º Macabeus,
14:4-15
4.Na Judéia reinou a paz, enquanto viveu Simão.
Procurou o bem-estar de seu povo, e este se agradou do seu poder e reputação. |
5.Com toda a glória que adquiriu, tomou Jope como porto e construiu um acesso
para as ilhas do mar. | 6.Alargou as fronteiras de seu povo e estendeu sua
autoridade sobre todo o país. | 7.Repatriou muitos dos judeus prisioneiros do
estrangeiro, apoderou-se de Gazara, de Betsur e da cidadela de Jerusalém, que
purificou de suas manchas, e ninguém ousava opor-lhe resistência. | 8.Os que
cultivavam a terra trabalhavam em paz; o solo dava suas colheitas e as árvores
dos campos, seus frutos. | 9.Os velhos assentavam-se nas praças públicas e
entretinham-se com o bem comum; os jovens revestiam-se com troféus e com
equipamentos de guerra. | 10.Simão forneceu víveres às cidades e tomou
resoluções para edificar praças fortes, de modo que em toda parte, até as
extremidades da terra, celebrava-se seu nome. | 11.Estabeleceu a paz em seu
país, e todo o Israel exultava de alegria. | 12.Cada um podia assentar-se sob
sua parreira ou figueira sem recear o inimigo. | 13.Não houve ninguém para
atacá-los, e os reis, nessa época, foram abatidos. | 14.Protegeu os humildes
entre seu povo, zelou pela lei e exterminou os ímpios e os perversos. |
15.Contribuiu para o esplendor do templo e enriqueceu o tesouro.
Que bela descrição de um governo. Como eu
desejaria que nossos governantes de hoje em dia pudessem ter uma biografia como
esta registrada para as futuras gerações. Tenho a certeza de que qualquer
governante de qualquer parte do mundo se sentiria muito feliz de ver um relato
como este referente ao seu período de governo.
Fim da glória de Israel
Porém, para sua desgraça, Simão casou uma de suas
filhas com um dos descendentes dos Ptolomeus do Egito. Em 135 a.C. seu genro
Ptolomeu assassinou Simão (e alguns filhos e amigos) com o intuito de galgar ao
trono de Israel.
João Hircano, filho de Simão, foi rápido em suas
decisões e reivindicou o trono antes de Ptolomeu conseguir fazer o mesmo. Em seu
governo Hircano anexou a Iduméia, Samaria e a Pereia. Ou seja, realizou uma
expansão territorial para Judá. Ele também cunhou a sua própria moeda o que
simbolizava claramente a total independência de Israel com relação aos impérios
daquela época.
Esta expansão territorial é significativa para mostrar
o poderio econômico, militar e social de Israel, no entanto, ela também é a
razão de alguns problemas futuros. Ocorre que todos os habitantes destas regiões
foram obrigados a serem circuncidados tornando-se judeus por obrigação. Da mesma
forma que o batismo infantil de hoje criou uma série de pessoas “ditas” cristãs,
mas que de coração não o são, também esta circuncisão obrigatória gerou judeus
que só o eram na carne, mas não no coração. Deus não quer servos que O sirvam
por obrigação, Ele deseja servos que O sirvam de coração, por decisão
própria.
Esta circuncisão obrigatória gerou um povo judeu
na carne e que não era judeu de coração, destes surgiu Herodes que foi decisivo
na época do início do Novo Testamento causando inúmeros problemas para o povo
judeu.
Nesta época da expansão territorial de Judá
começou um dos períodos mais tristes da história de Israel. Uma verdadeira
decadência da Nação. Ocorre que a politicagem e a divisão em partidos começaram
exatamente neste período de Hircano.
É importante ressaltar que esta divisão partidária era
na verdade político-religiosa. Sendo inicialmente aliado dos Fariseus, Hircano
ofendeu gravemente o partido dos Fariseus e se aproximou do partido dos
Saduceus.
Esta mudança de lado se deu quando houve uma
falsa acusação de que ele não poderia ser sumo sacerdote por ter sido a mãe
dele, supostamente, prisioneira de guerra, o que segundo as leis farisaicas
desqualificava-o para o cargo.
Daqui para frente, o que ocorre com eles é muita
briga. Onde há partidos há discussões e fatalmente divisões. Isto ocorreu com
Israel. Eles tiveram paz, prosperidade, independência, voltaram a enriquecer,
viveram liberdade religiosa e seus inimigos foram afastados, mas agora, passaram
a brigar dentre si. O inimigo passou a ser seu irmão da mesma nação.
Decididamente é clara a afirmação de que os
ideais políticos e religiosos dos Macabeus haviam ficado para trás dando lugar a
projetos particulares ambiciosos de poder.
Com sua morte João Hircano deixou o comando da nação à sua esposa e a seu filho mais velho Judá Aristóbulo, mas este, não querendo dividir as glórias do poder, prendeu sua mãe e irmãos e fez com que sua mãe morresse de fome e matou também seu irmão Antígono. Só não cometeu mais loucuras porque morreu com apenas um ano de reinado.
Aristóbulo II e Hircano II eram filhos de Salomé
Alexandra que como viúva de Judá Aristóbulo se casou com seu cunhado Alexandre
Janeu, estes seriam os futuros sucessores de Judá Aristóbulo após a sua morte.
Vale ressaltar que Aristóbulo II era aliado dos Saduceus e Hircano II era aliado
dos Fariseus e portanto cada um destes partidos político-religiosos desejava que
um dos irmãos fosse o novo governante.
Fariseus e Saduceus:
Para entender de onde surgiram estes partidos político-religiosos, os antigos Hasidim deram origem aos Fariseus (palavra que significa separatistas) e aos Essênios (os que produziram os famosos Papiros do Mar Morto na comunidade Qumran). Já os helenistas, aqueles que achavam ser possível manter a sua religião e ter a cultura helênica, deram origem aos Saduceus. Notório é que a maioria dos membros da aristocracia judaica eram Saduceus nesta época.
Os Hasidim mais zelosos geraram a seita dos
Fariseus. Neste ponto é interessante explicar que tanto a nomenclatura
“partido”, quanto a nomenclatura “seita” se aplicam aos Fariseus. Ocorre que a
palavra seita, em sua origem, não tinha a conotação negativa que existe hoje. Na
época de Jesus existiam a seita dos Saduceus, dos Fariseus, dos Zelotas e dos
Essênios. Também o Cristianismo foi chamado de Seita naquela época, por, a
princípio, acharem que se tratava de uma subdivisão ou uma corrente de
pensamento dentro do Judaísmo. O nome Cristianismo surgiu apenas anos mais tarde
em Antioquia.
Apesar dos Fariseus estarem mais perto do que
Deus queria, ou seja, buscavam mais a Ele, houve um momento em que os ritos
passaram a ser mais importantes do que o relacionamento. Os fariseus aos poucos
deixaram de serem zelosos defensores da genuína fé em Deus para se tornarem
zelosos defensores da tradição farisaica. Foi este o motivo de Jesus ter atacado
tão diretamente aos fariseus. Foi esta a razão de Jesus não gostar dos Fariseus
e de até hoje entendermos o termo Fariseu como sendo algo falso, fingido,
superficial e tradicionalista.
fariseus |
Por outro lado, os saduceus não eram muito
melhores. Ocorre que estes tentavam encontrar um jeitinho de manter parte da
cultura helenista (com todos os absurdos da mesma) e também serem judeus. Isto
fazia com que fossem superficialmente judeus, sem um relacionamento profundo com
Deus e também fossem veladamente praticantes de inúmeras atividades helênicas
como nas vestimentas, no culto a beleza…
Contexto Geral:
No mesmo tempo em que estava havendo esta disputa
em Judá dentre os irmãos Aristóbulo II e Hircano II que era na verdade uma
guerra civil dentre as duas seitas, o general romano Pompeu foi até Damasco para
receber homenagens e presentes dos reis da Ásia.
Ambos os irmãos, um sem saber do outro, buscaram
ajuda de Roma para consolidar-se no poder em Israel. Depois de um longo tempo
sem tomar decisão (muito provavelmente pela experiência política dos dirigentes
romanos), Roma acaba tomando o partido de Hircano e coloca-o no sacerdócio, bem
como lhe dá o governo civil (apesar de que quem governava na verdade era
Antípater).
Isto gerou mais guerra interna, muitas vidas de
judeus foram ceifadas e infelizmente, acabou por fazer com que a Judéia perdesse
sua independência, pois, a partir deste momento, passou a pagar tributos a Roma
e assim, foi re-anexada a província da Síria (que a esta época já estava sob o
domínio romano) e passou a fazer parte de mais uma das províncias romanas.
Este foi o fim do tempo de glória de Israel. O
povo se afastou de Deus, alguns se apegando a tradições e outros achando normal
a paganização de suas vidas. Criaram-se partidos, as decisões passaram a ser
controladas pelos partidos e não por Deus. As pessoas passaram a se odiar pelo
simples fato de serem de seitas diferentes e o relacionamento com Deus foi
deixado de lado.
É interessante notar que Deus, mesmo nesta situação
terrível do povo judeu, já estava preparando o caminho para o desenvolvimento de
Sua Igreja na Terra. Ocorre que o irmão de Hircano II, Aristóbulo II que era o
candidato opositor deste que foi consolidado como governante de Judá, foi levado
para Roma, em companhia de vários outros judeus, como prisioneiros de guerra,
estes devem ter formado o núcleo inicial da colônia judaica em Roma que, mais
tarde, viria a ser a base inicial da Igreja Cristã na capital do império romano.
Mesmo nas piores situações os planos de Deus são imutáveis e tudo realmente
coopera para o bem do povo de Deus.
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