Por John Piper
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Em 26 anos de pastorado, o mais perto que eu havia
chegado de ser demitido da Igreja Batista Bethlehem foi em meados da década de
1980, depois de escrever um artigo intitulado Missões e masturbação para nosso
boletim. Eu o escrevi ao voltar de uma conferência sobre missões presidida por
George Verwer, presidente da Operação Mobilização. No evento ele disse como seu
coração pesava pelo imenso número de jovens que sonhavam em obedecer
completamente a Jesus, mas que acabavam se perdendo na inutilidade da
prosperidade americana. A sensação constante de culpa e indignidade por causa de
erros sexuais dava lugar, pouco a pouco, à falta de poder espiritual e ao beco
sem saída da segurança e conforto da classe média.
Em outras palavras, o que George Verwer considerava trágico – e eu também
considero – é que tantos jovens abandonem a causa da missão de Cristo porque
ninguém lhes ensinou como lidar com a culpa que se segue ao pecado sexual. O
problema vai além de não cair; a questão é como lidar com a queda para que ela
não leve toda uma vida para o desperdício da mediocridade. A grande tragédia não
são práticas como a masturbação ou a fornicação, e nem a pornografia.
A
tragédia é que Satanás usa a culpa decorrente desses pecados para extirpar todo
sonho radical que a pessoa teve ou poderia vir a ter. Em vez disso, o
diabo oferece uma vida feliz, certa e segura, com prazeres superficiais, até que
a pessoa morra em sua cadeira de balanço, em um chalé à beira de um lago.
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Hoje de manhã mesmo, Satanás pegou seu encontro das
duas da manhã – seja na televisão ou na cama – e lhe disse: “
Viu? Você é um derrotado. O melhor é nem adorar a Deus.
Você jamais conseguirá fazer um compromisso sério para entregar sua vida a Jesus
Cristo! É melhor arrumar um bom emprego, comprar uma televisão de tela plana bem
grande e assistir o máximo de filmes pornográficos que agüentar”.
Portanto, é preciso tirar essa arma da mão dele. Sim, claro que quero que você
tenha a coragem maravilhosa de parar de percorrer os canais de televisão. Porém,
mais cedo ou mais tarde, seja nesse pecado ou em outro, você vai cair. Quero
ajudá-lo a lidar com a culpa e o fracasso, para que Satanás não os use para
produzir mais uma vida desperdiçada.
Cristo realizou uma obra na história,
antes de existirmos, que conquistou e garantiu nosso resgate e a transformação
de todos que confiarem nele. A característica distintiva e
crucial da salvação cristã é que seu autor, Jesus, a realizou por completo fora
de nós, sem nossa ajuda. Quando colocamos nele a fé, nada acrescentamos à
suficiência do que fez ao cobrir nossos pecados e alcançar a justiça que é
considerada nossa. Os versículos bíblicos que apontam isso com mais clareza
estão na epístola de Paulo aos:
Colossenses 2.13-14: “Quando vocês estavam mortos em pecados e na
incircuncisão da sua carne, Deus os vivificou com Cristo. Ele nos perdoou todas
as transgressões e cancelou o escrito de dívida, que consistia em ordenanças, e
que nos era contrária. Ele a removeu, pregando-a na cruz”.
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É preciso pensar bem nisso para entender plenamente a
mais gloriosa de todas as verdades: Deus pegou o registro de todos os seus
pecados – todos os erros de natureza sexual – que deixavam você exposto à ira.
Em vez de esfregar o registro em seu rosto e usá-lo como prova para mandar você
para o inferno, Deus o colocou na mão de Seu filho e pregou na Cruz. E quem são
aqueles cujos pecados foram punidos na cruz? Todos que desistem de tentar salvar
a si mesmos e confiam apenas em Cristo. E quem assumiu essa punição? Jesus. Essa
substituição foi a chave para a nossa salvação.
Alguma vez você já parou para pensar no que significa Colossenses 2.15? Logo
depois de afirmar que Deus pregou na cruz o registro de nossa dívida, Paulo
escreve que o Senhor,
“tendo despojado os poderes e
as autoridades, fez deles um espetáculo público, triunfando sobre eles na
cruz”. Ele se refere ao diabo e seus exércitos de demônios. Mas como são
desarmados? Como são derrotados? Eles possuem muitas armas, mas perdem a única
que pode nos condenar – a arma do pecado não perdoado. Deus pregou nossas culpas
na cruz. Logo, houve punição por elas – então, seus efeitos acabaram! O problema
é que muitos percebem tão pouco da beleza de Cristo na salvação que o Evangelho
lhes parece apenas uma licença para pecar. Se tudo que você enxerga na cruz de
Jesus é um salvo-conduto para continuar pecando, então você não possui a fé que
salva. Precisa se prostrar e implorar a Deus para abrir seus olhos para ver a
atraente glória de Jesus Cristo.
Culpa corajosa
– A fé que salva recebe Jesus como Salvador e Senhor e faz dele
o maior tesouro da vida. Essa fé lutará contra qualquer coisa que se coloque
entre o indivíduo salvo e Cristo. Sua marca característica não é a perfeição,
nem a ausência de pecados.
Quem enxerga na cruz uma licença para
continuar pecando não possui a fé que salva. A marca da fé é a luta contra o
pecado. A justificação se relaciona estreitamente com a obra de
Deus pregando nossos pecados na cruz. Justificação é o ato pelo qual o Senhor
nos declara não apenas perdoados por causa da obra de Cristo, mas também justos
mediante ela. Cristo levou nosso castigo e realiza nossa retidão. Quando o
recebemos como Salvador e Senhor, todo o castigo que ele sofreu, e toda sua
retidão, são computados como nossos. E essa justificação vence o pecado.
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Possuímos uma arma poderosa para combater o diabo
quando sabemos que o castigo por nossas transgressões foi integralmente cumprido
em Cristo. Devemos nos apegar com força a essa verdade, usando-a quando o
inimigo nos acusar pelas nossas faltas. O texto de Miquéias 7.8-9 apresenta o
que devemos lhe dizer quando ele zombar de nossa aparente derrota:
“Não te alegres a meu respeito; ainda que eu tenha caído,
levantar-me-ei (…) Sofrerei a ira do Senhor, porque pequei contra ele, até que
julgue a minha causa e execute o meu direito”. É uma espécie de “culpa
corajosa” – o crente admite que errou e que Deus está tratando seriamente com
ele. Mas, mesmo em disciplina, não se afasta da bendita verdade de que tem o
Senhor ao seu lado!
Há vitória na manhã seguinte ao fracasso! Precisamos aprender a responder ao
diabo ou a qualquer um que nos diga que o Senhor não poderá nos usar porque
pecamos. “
Ainda que eu tenha caído, levantar-me-ei”, frisou o
profeta. “
Embora eu esteja morando nas trevas, o Senhor será a minha
luz.” Sim, podemos estar nas trevas da iniqüidade; podemos sentir
culpa, porque somos, realmente, culpados pelo nosso pecado. Mas isso não é toda
a verdade sobre o nosso Deus. O mesmo Deus que faz nossa escuridão é a luz que
nos apóia em meio às trevas. O Senhor não nos abandonará; antes, defenderá a
nossa causa.
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Quando aprendermos a lidar com a culpa oriunda de
nossos erros com esse tipo de ousadia em quebrantamento, fundamentados na
justificação pela fé e na expiação substitutiva que Cristo promoveu por nós,
seremos não apenas mais resistentes ao diabo como cometeremos menos falhas
contra o Senhor. E, acima de tudo, Satanás não será capaz de destruir nosso
sonho de viver uma vida em obediência radical a Jesus e de serviço à sua
obra.
***
John Piper é doutor em Estudos do Novo Testamento, professor de Estudos
Bíblicos na Faculdade Bethel, em Minnesota, onde atua como pastor presidente na
Igreja Batista Bethelehm. É autor de livros como: A vida é como a neblina, O
legado da alegria soberana, Teologia da alegria, O sorriso escondido de Deus,
além de outros.
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